terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

VALORIZAR A ALEGRIA AUTÊNTICA


Valorizar a Alegria Autêntica

Carnaval é sinônimo de folguedos, de excessos e of
O Carnaval é sinônimo de folguedos e, em particular, de excessos e ofensas à moral. O bom senso se torna mais necessário neste período, para evitar dolorosos e tardios arrependimentos. Muito expressivo o fluxo de viajantes. Uma parte significativa da população se retira do Rio de Janeiro. Não faltam, nessa ocasião, notícias sobre o evento e suas conseqüências, como o número de ônibus extra na rodoviária, aviões lotados, o perigo das rodovias e a cifra de acidentes. Em sentido contrario, chegam muitos à cidade, inclusive vindos do estrangeiro. A indústria do turismo divulga cifras elevadas. Há grandes interesses econômicos e financeiros em jogo. A propaganda, em seu papel de incentivar o acontecimento, infelizmente, utiliza recursos que ferem a moral cristã. A sexualidade humana é rebaixada e afrontosamente nivelada a manifestações de instinto animal. O turismo sexual, até mesmo utilizando menores, se constitui uma característica de nosso País, lamentavelmente!
Por outro lado, muitos que não saem do Rio, participam de retiros espirituais, ou aproveitam a oportunidade para repouso. Todos esses ficam na penumbra dos formadores de opinião pública. Como exemplo, oRetiro Rio de Água Viva há 12 anos se realiza no Maracanãzinho, de sábado até terça-feira do Carnaval. São quatro dias, iniciando no sábado pela manhã e elevado é o número de participantes. No ano passado, encerrei o retiro com uma assistência aproximada de 20.000 pessoas, em parte ponderável composta por jovens. Organizaram-se também retiros menores, com significativa presença. Quando, no estrangeiro, ouço referências desabonadoras ao Rio de Janeiro, a propósito de excessos ocorridos no Carnaval, costumo lembrar que a cidade, nesses dias, possui, também, outra face, que nobilita seus habitantes. E cito esses retiros, para que tenham uma idéia correta de nossa realidade.
Sem dúvida, o bom senso se torna mais importante nesse período do ano. Não é o folguedo que merece reprovação. Pelo contrário, ele é benéfico e necessário à criatura humana. O abuso, especialmente a distorção do sexo em sua dignidade, como ocorre também com a bebida alcoólica e drogas, merece firme reprovação. Somente o controle do instinto evita passar do uso ao abuso, este nocivo, prejudicial à vida da criatura, feita à imagem de Deus.
Diz o Catecismo da Igreja Católica (nº 1950 ss): “A lei moral é obra da Sabedoria divina. (...) É uma instrução paterna, uma pedagogia divina. Ela prescreve ao homem os caminhos, as regras de comportamento que levam à felicidade prometida; proscreve os caminhos do mal que desviam de Deus e do seu amor”. São Paulo (Rm 10,4) nos fala do objetivo da legislação em plano religioso: “Porque a finalidade da lei é Cristo para a justificação de todo o que crê”.
Estas verdades subsistem, mesmo quando tantos pregam o contrário. O caráter de cristão, recebido no Batismo, nos adverte para remar contra a corrente da opinião pública, oposta aos princípios cristãos ensinados por Jesus. O período carnavalesco, para muitos, possui uma força em sentido inverso às normas deixadas por Jesus. A reflexão fortalece o bom senso, que nos preserva dos exageros que ferem as leis do Senhor. Eis um momento oportuno para recordar que nos Estados totalitários, nazistas e comunistas, o poder público organizava o lazer, especialmente o dos jovens e dos operários. Fazia-o segundo os ditames do absolutismo ideológico. A conseqüência foi o enfraquecimento e a destruição dos valores éticos, princípios de dignidade que devem orientar a sociedade humana.
Hoje, porém, nos países livres de tais ditaduras surge um outro totalitarismo: o do prazer sem responsabilidade; a gigantesca máquina de publicidade que impõe “critérios” ofensivos à liberdade, à honestidade, à dignidade da família e do indivíduo bem formado.
A falta de bom senso, que urge seja corrigida, se evidencia com as freqüentes tentativas para unir, no Carnaval carioca, em uma mesma apresentação, mulheres despidas, ou seja, a paganização dos costumes, com sinais e manifestações de Fé católica. Esses fatos, repetidos, revelam desprezo pelo sagrado, ignorância ou insensibilidade, cuja conseqüência é a afronta aos sentimentos religiosos. Graças a Deus, a Justiça do Rio tem impedido a profanação do sagrado.
Essas reflexões nos convidam à valorização da alegria autêntica, construtora do bem-estar público e privado e também a participar de atos de desagravo pelas ofensas a Deus, que se multiplicam no período carnavalesco.
Cardeal Eugênio de Araújo Sales
Arcebispo Emérito da Arquidiocese do Rio de Janeiro

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